segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Jamais Impedirei que Me Ames. Capítulo 12


Dois meses depois de ter traído Edgar, estávamos na casa de seus pais, quando ele me surpreendeu com um pedido muito especial. Diante de sua mãe, Pai e de seus irmãos, pediu-me em noivado. A mãe de Edgar, dona Vilma quase desmaiou tamanho o susto, não só por presenciar o noivado do filho com outro homem, como por não saber da sua homossexualidade. Eu não sabia onde enfiar minha cabeça, o pai já sabia de tudo. O que eu não poderia prever era que a família de Edgar era muito divertida e por ser espírita não nutriam uma imagem monstruosa da homossexualidade. No fim de tudo, estávamos todos reunidos na mesa, jantando e celebrando o noivado.

Por esta eu não esperava, mas tal atitude de coragem e amor me deixou muito constrangido, afinal eu nem sempre fui fiel e isto me tirava a paz. Então resolvi contar a Edgar o que acontecera na praia entre eu e Mateus meses atrás.

Estávamos voltando para casa, a estas alturas eu já estava morando na casa de Edgar, quando eu resolvi parar em um bar perto de casa. Chegamos e pedimos uma fanta. Edgar estava com os olhos ainda cheios de lágrimas, ainda festejava. Eu disse:

- Amor, eu tenho algo para falar muito sério.

Edgar: Pode falar, hoje você pode tudo.

Fred: inclusive te trair?

Neste momento os olhos de Edgar continuavam a brilhar, mas o semblante mudou.

Edgar: pare de brincar, eu sei que você é serio!

Fred: mas é sério, eu trai você.

Edgar não conteve as lágrimas.

Ed: como? Onde? Com quem? Por que?

Fred: Há dois meses, encontrei Mateus...

Edgar em um ímpeto me interrompe.

- Eu já sabia, o próprio Mateus me disse.

Fred: e porque você nunca disse nada?

Ed: eu queria ouvir de você, estava pronto para te perdoar, eu sabia que você me contaria se fosse tão importante. E agora eu só quero saber, foi tão importante ao ponto de você desistir de noivar-se comigo?

Eu não poderei, nunca, descrever o que eu senti, mas com todas as minhas forças eu amei Edgar naquele momento.

- Eu amo você, mais que tudo, mais do que se pode amar, eu te amo.

Abraçamos-nos e fomos pra casa.

Na manhã do dia seguinte liguei para Brígida e contei tudo, ela ficou bege, ficou de todas as cores, amou tudo, mas me contou que Mateus afastara-se totalmente da igreja e que estava no mundo da promiscuidade, da bebedice e até drogas estava usando. Eu fiquei triste, e pensando em tudo o que eu acreditava sobre a igreja e seu papel na vida dos LGBT’s no tempo em que eu conheci Mateus, no tempo em que eu imaginava que poderia viver com ele o que estava a viver com Edgar. Como seria diferente nossas vidas, se não houvesse tanta intolerância no dito meio cristão.

Algo ainda martelava minha mente, o que realmente acontecera com Clóvis e Edgar, mas disto falaremos em breve. E o que acontecerá com Mateus? Espero que esta seja a indagação do teu coração. Continue lendo...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 11


Capítulo 11

O dia deveria ser constituído apenas pala manhã, pelo menos aquele dia deveria ser assim. Aquela manhã com Edgar foi perfeita.

Quando eu era garoto, sempre que a felicidade me batia a porta eu pensava que a tristeza me visitaria mais tarde, e desta vez não foi muito diferente, pelo menos foi o que pensei. No final da tarde resolvi ir a praia, fui pra passear, ver o pôr do sol, alem é claro de ver gente bonita, mais precisamente homens bonitos, para todos os gostos, negros, morenos, loiros. Este é o momento mais lindo do dia, o crepúsculo. O que eu não poderia prever era a presença de Mateus em um dos bares da orla. Encarei com tranquilidade, tentando impor ao meu coração que se comportasse. Quando ele me avistou pulou da cadeira e aparentemente ébrio, titubeando foi até mim e me abraçou fortemente. O cheiro da cachaça, mais precisamente caipirinha, me embriagou. Sentamos e conversamos sobre o que estava acontecendo:

- como pode Mateus, você ficar bêbado sem motivo?

- como sem motivo, Fred, eu amo você e você não me quer! Isto é um bom motivo para mim. Não acha?

- não. Afinal, se você me quisesse mesmo, você teria me dito sim, quando pôde.

- é verdade, mas só Te dei valor quando te perdi.

Fiquei calado por algum tempo, nossos olhos, fixos, revelavam nossos corações. Mas o que estava acontecendo? Pela manhã estava morto de paixão pelo Edgar e agora estava desfalecido diante do olhar de Mateus.

- você não vai dizer nada?

Mateus mal terminou de falar e já foi levando seus lábios nos meus. Todo o que eu acreditava ser belo foi reforçado naquele momento, coração vagabundo, era o que eu pensava. As mãos de Mateus percorriam meu corpo com uma voracidade que me arrepiava todos os pêlos, seu beijo me sugava de forma que eu poderia ver tudo o que há de salivante em mim motivando a força e a intensidade de cada carícia.

Sempre critiquei o comportamento dos Gays do gueto, quando transam em Darkroom ou em banheiros, ou até mesmo em ruas. Mas meu pensamento mais puro era ir pra qualquer lugar e extrair de Mateus todos os seus sabores de todas as formas.

Fomos parar no banheiro do bar, afinal de contas não dava pra continuar na mesa, próximos dos outros clientes do bar. Eu não poderia acreditar que finalmente transaria com Mateus, ele era conhecido como, garoto do taco de baseboll. Tudo porque num evento da igreja, no banheiro masculino, os garotos fizeram um campeonato pra ver quem tinha o maior Pinto e adivinha quem ganhou? Isto mesmo, o garoto do taco de baseboll. Mas voltando ao banheiro do bar. Finalmente o taco de baseboll estava em minhas mãos. Tínhamos que ser rápidos, nossos corpos em chamas, suados, nossos beijos cada vez mais intensos, minha sorte é que ele tinha uma camisinha em seu bolso, eu não sabia por onde começar, mas não tínhamos tempo pra detalhes, deixei tudo por conta dele que com muita sabedoria soube usar muito bem os 10 minutos que durou nosso grande momento de prazer, daí foi só alegria, ou melhor, dez minutos de alegria. Voltamos, estávamos mais calmos, conversamos muito e nos entendemos.

A tarde se foi, passou da forma mais deliciosa possível. À noite recebi uma ligação, era Edgar, todo feliz, dizendo que me amava e que não parava de pensar em mim. Naquele momento todo o que há de moral, de integridade dentro de mim se escondeu num cantinho bem escuro do meu coração. Eu apenas disse que sentia o mesmo por ele e desliguei.

Um pouco antes de dormi, pensei bem no que acontecera e descobri que não me arrependera do que havia feito, não havia em mim remorso algum, nem pensava ter traído Edgar, o que aconteceu naquela tarde foi apenas um momento de saciar uma sede antiga, de tirar minhas dúvidas quanto ao gosto, ao sexo de Mateus. Tal duvida sempre me consumiu, eu sabia que se aquilo não acontecesse eu morreria bem velhinho ainda querendo saber o gosto do taco de Baseboll.

Em mim, existia a plena consciência que, moralmente, nada daquilo era aceitável. Transar no banheiro de um bar, com alguém que não era meu namorado, mas naquele momento preferi pensar na salivante tarde com Mateus e deixar estas coisas de moral pra depois.

Agora penso que Deus foi perfeito na constituição do dia, manhã, tarde e noite.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 10


Capítulo 10

Passei a noite sem dormir, me deliciava com a lembrança do que acontecera. Nada poderia ser mais intenso, eu estava me apaixonando pelo cara errado. Mas o coração lá respeita estas coisas?

Vale lembrar que há pouco tempo eu estava sofrendo de amores pelo Mateus. Realmente não era o momento de uma nova paixão. Na manhã do dia seguinte Mateus chegou a minha casa, e para minha surpresa Edgar já havia falado que estava sentindo algo por mim. Mateus parecia pedir satisfações, eu fiquei sem entender, afinal dele recebi o maior fora da minha vida.

Perguntei:
- O que está acontecendo? Afinal você me dispensou e agora não posso ficar com outra pessoa?
- Não é isto, é que ele espancou Clóvis, e você queria vingança.
- Realmente, mas tenho descoberto outro Edgar, todo mundo merece ser ouvido, não?
- Claro. A verdade é que estou morrendo de ciúmes.
Parei, gelei e calei por um tempo, é como se uma tsunami de sensações e sentimentos tomassem conta de mim, como se uma ferida aparentemente sarada fosse aberta violentamente. Não pensei duas vezes e pedi para Mateus sair, eu precisava respirar.

A confusão tomou conta dos meus pensamentos, afinal Edgar me conquistara de uma forma irremediável e agora Mateus acabara de declarar seu amor. Eu definitivamente já não amava Mateus da mesma forma, e nem poderia. De um lado Edgar, um cara que eu acabara de conhecer e suas referencias não eram as melhores, do outro Mateus o menino religioso que vive uma vida dupla, pena não existir chapolin colorado.

Depois de muito pensar eu decidi deixar as coisas acontecerem naturalmente. À noite fui à igreja, queria ver Mateus e me surpreendi com os olhares das pessoas. Eles me condenavam com seus olhares, fiquei sem entender. Quando terminou o culto fui falar com Irmã Lúcia que me explicou o porquê dos olhares acusativos. Fiquei enfim sabendo que Mateus disse a toda igreja que fora seduzido por mim e todos acreditavam que eu o influenciara a homossexualidade, fiquei arrasado. Fui pra casa pesado.

Fiquei a refletir a respeito de a homossexualidade ser algo externo ao nosso corpo, como eu poderia influenciar alguém a algo que é inato ao ser humano nesta condição. Realmente a igreja está carregada de muitos preconceitos.
Na Manhã seguinte as nuvens de chuva estavam a me avisar que teríamos um dia bem agradável e foi neste clima que recebi a visita de Edgar, eu não poderia definir o quanto fiquei feliz, só pude demonstrar o beijando, como se estivéssemos a meses distantes. Ele se surpreendeu, mas adorou. Ele fora na minha casa me avisar que havia sido aprovado no último concurso e que agora poderia assumir sua homossexualidade com segurança e também assumir nosso namoro. Fiquei gelado de novo, mas fiquei gelado de feliz. Assumir nosso namoro? Quer dizer que antes ele nunca havia assumido nada por não ter estabilidade financeira e não por preconceitos? Mas porque batera no Clóvis, o que realmente teria acontecido, eu estava vivendo um dilema e como falar sobre isto com Edgar. Deixei estes questionamentos pra depois e tratei de curtir o momento. Edgar se mostrara perfeito, era como se previsse meus pontos de excitação, mãos e corpo me deixavam sem juízo. Terminamos a manhã almoçando juntos e ele voltou a sua casa pra organizar a papelada e assumir seu cargo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010




Capitulo 9

Vingar a morte do meu amigo era o que me movia. Naqueles dias não consegui ter alegria. Só pensava em como não deixar passar em branco o que Edgar fez a Clóvis. Foi quando recebi uma ligação do Mateus, ele havia conversado com Brígida e estava extremamente chateado com o que acontecera e se dispôs a ajudar no que fosse preciso. Mateus era amigo de Edgar e conhecia os gostos e lugares freqüentados por ele.

Resolvi visitar um amigo que mora numa cidade vizinha aqui mesmo na ilha. Existem quatro municípios dentro da ilha de São Luís (também chamada de upaon-açu), São José de Ribamar, Paço do Lumiar, Raposa e nossa capital São Luís. Quando estava voltando para casa resolvi parar num bar, foi quando encontrei Brígida e Paloma que me convidaram a beber e dançar numa festa LGBT que estava “rolando” em um bar recém inaugurado no centro histórico da cidade no coração do reviver (Nome do projeto de revitalização do centro histórico onde se encontram as principais casas de festas LGBT). Eu estava animado, Paloma estava sozinha em casa e propôs uma festinha particular, Brígida sem titubear aceitou, eu fiquei um pouco receoso afinal elas iriam convidar alguns “carinhas” pra nos acompanhar. Elas convidaram quatro garotos. No meio da festa chegaram Mateus e Edgar, meu coração ficou frio. Deu-me vontade de encontrar um buraco e enfiar minha cabeça. Aquele era o ultimo lugar onde eu gostaria de estar. Bebi uma caipirinha e me joguei na pista, sem perceber Mateus se aproximou de mim e de repente começou a beijar uma “piquena” (expressão usada em São Luis para se referir a garotas). Foi como jogar um balde de água em um palito de fósforos (não que eu pareça um, rsrs).

Sentei-me em uma mesa que coincidentemente estava de frente para a mesa de Edgar. Ele me olhava fixamente, nem imaginava que queimava dentro de mim o fogo da raiva por saber da historia dele com Clóvis. Foi quando Brígida resolveu convidar Edgar pra ir à festinha na casa da Paloma. No inicio detestei a idéia, mas depois pensei que seria importante me aproximar pra descobrir uma forma de desmascarar o cara que fez tanto mal a meu melhor amigo.

Já eram duas da madrugada quando resolvemos sair da festa e ir à casa da Paloma. Brígida convidou Edgar, mas eu pedi, implorei para não convidar Mateus, pedido este que foi negado. Bom, chegamos à casa de Paloma e os meninos foram logo para cozinha preparar um lanche, estávamos todos com fome. Eu tive que fingir que a presença tanto de Mateus quanto de Edgar não me incomodava. Edgar se mostrou um brincalhão e todos já estavam chateados. Foi quando resolvi socializar com ele. Deitamos-nos no sofá e ficamos um do lado do outro, ele me olhava nos olhos e dizia que nunca havia deitado tão perto de um cara. Tive que conter minha ânsia de vomito, mas fui um bom ator, e comecei a usar isto a meu favor. De uma forma muito sensual dirigi a conversa, e perguntei o que ele sentia com a novidade de estar ao meu lado, neste momento coloquei minha perna sobre a dele e comecei a dedilhar sua barriga que por sinal era linda. Edgar tem um corpo muito bonito, em todo tempo eu pensava que aquele corpo estava sendo usado pelo espírito errado. No final da conversa ensaiamos um beijo, mas ele recuou como se fosse estranho. Aquele seria o primeiro passo para efetuar minha vingança.

Tal vingança consistia em ter um romance com Edgar e expor isto a todos de forma a deixar claro que ele no mínimo era bissexual. Que para um cara preconceituoso como ele era o fim.

O dia raiou e todos nós fomos pra casa.

Dormi a manhã inteira e logo no inicio da tarde fui acordado pelo celular tocando, era Edgar Me convidando pra ir a uma festinha na casa dele. Nem sei como ele ainda tinha pique pra fazer mais festa. Não pensei duas vezes e aceitei o convite. O estranho é que aceitei com uma alegria que me fez esquecer por alguns instantes quem era Edgar e o que representou na vida e morte do Clóvis. Tomei um banho caprichado, coloquei a roupa que eu mais gosto e fui à casa de Edgar. Quando cheguei não havia festa alguma, ele estava sozinho, vendo “P.S I LOVE” um filme que sou apaixonado. Quando ele me viu foi logo explicando que na verdade ele queria me ver e ficar a sós comigo e se me convidasse pra ver um filme sozinho com ele eu poderia não aceitar, o que seria uma péssima noticia. Naquele momento comecei a lembrar do que ele fizera a Clóvis, do braço quebrado, da surra que deu em meu amigo. O clima romântico pelo menos pra mim acabou. Fui frio e quando o filme acabou ele me pediu um beijo, eu fiquei sem ação, mas resolvi dar. Ele me segurou e me deitou em seus braços, era como se eu estivesse no lugar mais seguro do planeta, me beijou como se me acariciasse com um cuidado de quem estava apaixonado. Por cinco segundos novamente ele me fez esquecer tudo e todos e só existiam nós dois, tudo parou e a única coisa que se movia eram nossas bocas e mãos e claro nossos corações que batiam a mil. quando esse mix de sensações acabou pedi para eu sair, estava confuso e precisa respirar, pensar no que tava acontecendo. Ele ficou sem entender, mas me permitiu sair.

Fui pra casa e fiquei a pensar no que tava acontecendo, afinal eu não deveria me envolver com Edgar, que por sinal estava mostrando ser bem diferente do que Clóvis descrevera.

terça-feira, 15 de junho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Jamais impedirei que me ames. Cap 8


Aquela noite realmente foi inesquecível. A lembrança de Clóvis no ar seguro apenas pela corda, teimava em grudar nos meus pensamentos. Depois de muito tentar, consegui dormir.


No dia seguinte, acordei cedo com um telefonema, era Mateus aflito com o que acontecera. espantado, afinal Clóvis freqüentava a igreja e sendo assim ele sabia que iria direto pra o inferno. Fui bem rude com Mateus, afinal o que menos importava naquele momento era estas conclusões religiosas e sim o estado da sua família. Sempre vi nestas pessoas que se importam tanto com o destino póstumo dos outros muita hipocrisia.


Depois de falar com Mateus. Resolvi ir ao velório. Coloquei uma roupa preta em sinal da minha tristeza. Encontrei Brígida que logo cedo já estava a caminho da casa da família de Clóvis. Brígida me perguntou como pode Clóvis com o braço quebrado amarrar uma corda no teto. Realmente era intrigante, eu não detinha a resposta. Fomos cheios de indagações ao velório.


Logo quando cheguei a mãe de Clóvis, dona clara, me abraçou e contou que antes de aparecer com o braço quebrado Clóvis já havia amarrado a corda, alegando querer armar uma rede. Desde criança Clóvis adorava dormir em rede. Depois de falar estas coisas ela me perguntou se ele me disse como quebrou o braço. Eu fiquei frio. Ela continuou, dizendo que ele explicou que caira da goiabeira da minha casa. Eu apenas confirmei.


O pai de Clóvis, seu Mauro, estava muito triste. O Pastor da família chegou e deu uma palavra de apoio a familiares e amigos. Ninguém tocava no assunto temido da homossexualidade parecia que queriam pôr uma pedra nesta história. Mas eu acreditava que colocar uma pedra nesta história era negar o próprio Clóvis e tudo que ele viveu. Quando pensei isto tomei uma decisão. Pedi um espaço depois do sermão do Pastor.


Neste momento pedi a dona Clara para eu ler a carta de despedida de Clóvis. Ela prontamente atendeu meu pedido. Quando já estava com a carta em minhas mãos o pastor terminou a palavra e eu ergui minha voz.


- Sou um amigo muito próximo do Clóvis, eu o amava muito e estou muito triste por sua morte. Mas tem uma coisa que não posso admitir. Que ele tenha morrido em vão. Sei o motivo que o levou a dar cabo de sua vida. E quero que todos tenham consciência disto. Por isto vou ler a carta de despedida que ele deixou a sua mãe,mas que de alguma forma pode nos ajudar a cuidarmos mais de nossos filhos e filhas, de nossos amigos e vizinhos.

Neste momento li em voz alta a carta de Clóvis.


Todos ficaram espantados, dona clara perecia ter entendido minha ousadia como uma ultima homenagem ao meu querido amigo. Mas seu Mauro, aparentemente irado, retirou-se do ambiente. Os parentes e amigos ficaram muito pensativos e eu tive a plena certeza que ali a morte do meu amigo não foi em vão.

No final da tarde Clóvis foi cremado, este sempre foi um desejo dele. Quando eu estava a caminho de casa vi Edgar, minha vontade era de pular em seu pescoço, mas tive que me conter.


Queria poder voltar ao tempo e refazer toda esta história, mas no mundo real as coisas não acontecem assim. Por conta da intolerância eu muitas vezes pensei em tirar minha vida, mas minha fé em Deus e minha certeza que Ele me ama sempre me mantiveram vivo. Pensei naquele final de dia que poderia trabalhar, militar pela causa. Estava disposto a ajudar, aprender sobre minha sexualidade e tentar mudar um pouco o mundo que nos rodeia.

domingo, 6 de junho de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 7


Capítulo 7

O que previ realmente aconteceu. Em vez de me ligar, Clóvis foi até minha casa. Nem acreditei quando vi Clóvis, tava com o braço quebrado e muito triste, seus olhos estavam inchados e as lágrimas não paravam de rolar. Fiquei sem entender.

O que houve? Perguntei.

- Contei para o Edgar que falei a você do nosso encontro e ele ficou irritado disse que não era bicha e que mais cedo ou mais tarde eu contaria pra outras pessoas. Eu disse que ele não poderia ser Hétero, afinal tinha ficado comigo. Edgar virou uma fera e começou a me bater e gritar que me mataria se eu contasse pra mais alguém. Mas o pior não foi nada disto. Ele tentou me estuprar. Pegou uma faca na cozinha e disse que eu iria transar com ele querendo ou não, pra eu aprender a respeitar cara de macho. Eu estava espantado e muito nervoso, não havia clima. Quando eu tentei fugir eu acabei caindo na escada, depois ele desceu e começou a me chutar e cuspir em mim. Eu quebrei o braço e como dar pra ver estou todo machucado. O pior de tudo é que meus sentimentos estão dilacerados, meu coração está envergonhado de acreditar que poderia amar o Edgar, mesmo sendo “bofe”.

Depois de ouvir tudo isto, eu abracei meu amigo. Choramos juntos. Clóvis é um menino que sofreu muito na vida por ser Gay. a família dele sempre o tratou de forma diferente de seus irmãos héteros seu Pai sempre foi muito duro, sua mãe tentava acalmar as coisas NE casa dele sempre que a temática homossexualidade entrava nas conversas ou discussões em família. Na verdade nem sei o que seria do Clóvis sem sua mãe. Carinho materno foi o que sempre manteve Clóvis vivo. e quando ele finalmente achou encontrar um homem que o daria carinho acontece tudo isto. e eu não poderia naquele momento dar lição de moral.

A vida dos Gays costuma ser difícil, afinal nós somos, geralmente, criados de forma diferente. Não nos tornamos gays pela forma como somos criados e sim somos criados de forma diferente por sermos gays. E com Clóvis não era diferente. Mas o que estava me angustiando era o fato de Clóvis ser muito emotivo e ter alguns preconceitos religiosos em relação a sua sexualidade. achar que Deus nos abomina faz mal e deixa nosso alto-estima lá em baixo.

Naquele momento Clóvis se deitou na minha cama e eu comecei a tocar violão e tocar alguma música feliz pra distraí-lo, cantei uma música da Vanessa da mata, quando um homem tem uma mangueira no quintal, ele adora a letra desta música, morre de rir. Logo estava dormindo.

Fiquei olhando pra ele dormindo e não conseguia ver além de um menino simples e normal. Que sonhou e quebrou a cara, que viveu uma vida difícil e merece tanto um amor, uma vida tranqüila. Como já disse cazuza, a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida.

Depois de uma hora, ele levantou e disse que iria pra casa. Despedimos-nos e ele me deu um abraço muito apertado. Dizendo que eu tinha sido a pessoa mais legal que havia conhecido na vida e que pra sempre ele me levaria em seu coração. Eu agradeci e ele saiu.

Duas horas depois recebi uma ligação, a mãe de Clóvis desesperada. Em meio a choros não conseguiu falar nada, desliguei o fone e fui a sua casa.

Quando cheguei havia carros da polícia e muitas pessoas. Eu consegui entrar e não posso descrever como foi terrível a cena que vi. Clóvis havia amarrado uma corda no teto do seu quarto e suicidou-se. Eu não podia contar as lágrimas. A mãe dele inconformada correu pro meu abraço. Choramos muito. Ela estava com um papel na mão. Era uma carta. Deixada por Clóvis. Aquela noite foi terrível pra todos nós.

Clóvis disse em sua carta:

"Eu não escolhi ser assim. Por tantas vezes perguntei pra Deus, porque eu? Entre tanta gente, justo eu fui nascer gay? Eu não posso mudar isto. Carinho? Nunca tive. a não ser de você mamãe. Por isto a você deixo esta carta, a única pessoa que me amou de verdade. A você dedico meus 19 anos de vida. Desculpa não ter forças pra suportar a sociedade que me apedreja com seus pré-conceitos. Diga ao papai que o amei muito apesar de todas as vezes que apanhei por brincar com as bonecas da Maria Lúcia, ou quando me cobrava namoradas mesmo sabendo da minha orientação sexual. Também digo aos meus irmãos que os amei sempre. Desejo um dia reencontrar a senhora. Mas não quero mais viver, sofrer e não ter amor. Sabe mamãe não é fácil. Não foi fácil. Adeus."

Clóvis Ferreira.

terça-feira, 1 de junho de 2010


Capítulo 6

Quando cheguei em São Luís recebi uma ligação, era Clóvis. Fiquei muito feliz, pois fazia uma semana que não nos falávamos e como tudo na vida, parecia que tudo estava diferente com ele. Em uma semana ele conheceu o “amor da sua vida”. Ligou-me e falou exatamente como aconteceu.

No meio LGBT as coisas costumam acontecer de forma muito rápida, você encontra uma bicha hoje e ela te apresenta um namorado e na semana seguinte você a encontra e ela te apresenta outro. Com Clóvis era diferente, ele nunca havia me apresentado algum namorado e pela primeira vez estava loucamente apaixonado.

Era um visinho, lindo, negro, magro e alto (que inveja, RS). Mas com um defeito era Hétero (só falo que é defeito, pois pela lógica heteros não se apaixonam por homos). Perguntei então como aconteceu à aproximação.

Clóvis começou:

- estávamos num bar aqui perto, estava eu e uma amiga numa mesa de frente pra dele. Ele estava sozinho e eu o convidei pra sentar conosco, ele aceitou e conversamos muito, ele disse que estava triste, pois sua namorada terminou o relacionamento e viajou para Santa Catarina. Minha amiga estava com um encontro marcado e teve que sair, ficamos sozinhos. Eu comentei que eu estava sozinho em casa e ele propôs levarmos uma bebidinha para lá e conversarmos melhor. E assim aconteceu. Quando chegamos em casa, ele me pediu uma bermuda emprestada, pois ele estava suado e queria trocar de roupa, nunca tinha reparado no corpo dele, que lindo, fiquei cheio de tezão. Mas disfarcei. De repente ele deitou em minha cama e ficou ouvindo musica no meu quarto, enquanto isto eu estava preparando uma bebida, fiz uma caipirinha com gelo. Fui pro quarto e deitei na cama junto dele. Ele pediu pra eu fazer cafuné em sua cabeça, eu prontamente fiz e resolvi fazer uma brincadeira, tirei um gelo da caipirinha e coloquei em seu peitoral.

- Arrasou amigo! Interrompi.

E Clóvis continuou:

- perguntei o que ele tava achando, ele respondeu que era excitante. você pode imaginar o quanto a sua resposta me excitou. Daí conduzi com a boca o gelo pelo corpo dele, que a essas alturas já estava despido. Conduzi o gelinho até seus lábios e aconteceu o que eu menos esperava, um lindo e molhado, gostoso, não existem adjetivos suficientes em nossa língua pra descrever aquele beijo. Depois do beijo foi só alegria, transamos a noite inteira. E no dia seguinte tomamos café juntos e ele foi pra casa, demos um beijo de despedida e ele me orientou a não me acostumar. Mas já estou apaixonado. E agora?

- Agora toma cuidado, pois bofe é comida de cachorro. Tudo bem que você deu, mas daí a se apaixonar? Agente se apaixona por homossexuais como agente e não por estes bissexuais que acham que são Héteros e nos machucam no final.

- é verdade amigo, mas agente não manda no coração. Hoje à tarde marquei com ele de nos encontrarmos amanhã aqui em casa. Estarei sozinho.

- ok, me deixa a par de tudo hein?

- ok até mais!

Desliguei o telefone e fiquei pensando preocupado com Clóvis, afinal como já disse antes, bofe é comida de cachorro.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 5


Capítulo 5

Em meio a muita dor e sentimento de frustração fui deixando de crer que um dia estaria com Mateus e foi neste tempo que fiz uma viagem.

Fortaleza, Ceará, cidade linda. Conheci alguns amigos preciosos. Não foi bem uma viagem a turismo e sim um treinamento para atuar na prevenção de DST/HIV/AIDS. Envolvi-me com uma ONG e me mandaram para fortaleza aprender sobre ações de prevenção nesta área.

O projeto abrangeria todo o nordeste, desta forma conheci pessoas de vários lugares. A diversidade era gritante, de travestis a garotas de programa, soropositivos a pessoas envolvidas em movimentos sociais. Dentre tanta gente, conheci Glauco, um militante da causa GLBT de Baturité, uma cidade da serra do Ceará.

De cara já gostei, era magro, mediano, pele clara e aparentemente bem inteligente, muito comunicativo e tinha uma bunda que chamava meus olhos e era impossível não acompanhá-la.

Ficamos hospedados no mesmo hotel. Nos primeiros dias trabalhamos varias dinâmicas de integração, desta forma, rapidamente já estávamos próximos. O fato de sermos de cidades diferentes rendia muito assunto. Depois começamos a perceber que tínhamos muitas coisas em comum.

As pessoas começaram a perceber e como não poderia ser diferente em um encontro de maioria gay, todos incentivavam a engatarmos um namoro. Um amor de verão, até porque estávamos solteiros, porque não? Só não contavam com minha timidez, definitivamente era muito tímido. Até deixava transparecer que Glauco chamava minha atenção, mas em alguns momentos decisivos eu resistia e fingia que não estava interessado.

Mas uma bela noite Glauco encostou-me na parede do meu apartamento e ensaiou um beijo. Foi com seus lábios até bem próximo a minha boca. Meu coração quase parou, fiquei frio, minha vontade era de beijá-lo, mas não fiz, o empurrei. Ele não tentou novamente naquela noite.

Na terceira noite, Glauco me convidou a sair do hotel e visitar um amigo. Aceitei e fomos passear pela cidade. Na verdade era uma republica onde pessoas do interior moravam enquanto estudavam na capital. Conversa vai, conversa vem e o tempo passou, ficou muito tarde e era perigoso voltar para o hotel. Resolvemos dormir na república. pela primeira vez dormiria do lado de Glauco. O tempo todo ficávamos nos abraçando e trocando elogios, isto me fez pensar que mais cedo ou mais tarde o beijo, que tanto quis a duas noites, se consumaria.

A hora de dormir chegou. E quem estava dormindo do meu lado? Isso mesmo, Glauco. Mas nada aconteceu, mais uma vez ele esperou minha iniciativa.

Minha viagem chegou ao fim, conheci algumas praias, enquanto muitos estavam em cinemas pornôs. Eu e Glauco ficamos muito amigos, trocamos contatos, nos despedimos e voltei a São Luís.

domingo, 23 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 4


Capítulo 4

Fiz uma música sobre aqueles dias, e passei a ver Mateus como um amigo, pelo menos eu tentava me convencer disto.

Mas as coisas do coração não funcionam assim e tenho que confessar que sofri bastante, minhas orações era pedindo pra esquecer, e consequentemente lembrava, e de repente pedia que Deus o trouxesse pra mim. Passei a me dar mal na faculdade, pensava nele na aula, em casa, ouvindo música.

Resisti por uns dias a procurá-lo. Numa sexta feira liguei e combinamos de sair. Naquele dia eu esperava que a noite fosse muito agradável e acredito que ele também, afinal Mateus sempre confessou que gostava de conversar comigo.

Aos poucos fui percebendo que Mateus era promíscuo, me contou que não conseguia ficar sem sexo. Naquela noite acabamos discutindo e acabei dizendo que ele era gay diante de alguns amigos em comum e também de um amigo de infância dele que não sabia da sua orientação. Mateus ficou muito chateado, me tratou com extrema arrogância.

Conheci outro lado daquele “cara” com quem eu queria ficar o resto da minha vida. Ele parou de falar comigo naquela noite e ficamos tão desconfortáveis um com o outro que logo voltei pra casa, frustrado.
Quando me via na rua era como se eu fosse um estranho e eu me comportei da mesma forma diante dele, mas meu coração nunca se acostumou com tal situação.

Sempre fui muito sonhador. E não poderia ser diferente, sou pisciano, sou romântico, ando nas nuvens. Ficava pensando em como reconquistar Mateus. Um sonho que ficava cada vez mais distante.

Estava sempre o seguindo de longe, me satisfazia só de vê-lo. Eu sabia que poderia até “ficar” com outros garotos, mas ele seria sempre o meu amor, meus melhores beijos estariam guardados pra ele, sonhava acordado com o seu cheiro.

Não entendo a intolerância quanto à homoafetividade, o que sentia por Mateus era tão puro e tão natural. Tenho certeza que vem de Deus o amor e tenho certeza que o que senti era amor. Enquanto religiosos homofóbicos tentam defender seus interesses, atribuindo ódio a Deus, (pois dizem que Deus abomina os homossexuais) pessoas morrem sem Deus, achando que o Senhor os odeia. Acredito no contrário, quem é de Deus tem atitudes que geram vida. A salvação esta disponível a todo que crer. Eu creio.

O tempo passou e me abri pra conhecer outras pessoas, fiz novos amigos e sai pra novos lugares. Conheci novas cidades.

sábado, 22 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 3


Capítulo 3

Jamais imaginei viver uma história tão triste, mas no dia seguinte recebi uma visita, era Mateus. Quando nos olhamos nossos olhos se encheram de lágrimas, algo me corroia por dentro, minha vontade era de correr e abraçá-lo, esperei pra ouvir o que ele tinha a dizer, entramos e nos sentamos, logo estávamos rindo e falando de causos engraçados nem parecia que a menos de vinte e quatro horas eu tinha levado o pior fora da minha história.

Fui convidado por Mateus a sair e beber alguma coisa. Fomos parar num bar perto da sua casa, e lá nossos olhares novamente se encontravam e coravam de desejo. Eu adorava ouvir Mateus falar, nos encontrávamos em nossos gostos mais particulares. Maria Betânia, Maria Rita e outros cantores pareciam que fariam a trilha sonora de algo muito bom que estaria por vir.

Ficamos sem assunto e quando isto acontece ou você beija ou vai pra casa frustrado, no meu caso, fui pra casa frustrado. Mas antes de ir marcamos de nos ver no dia seguinte.

Daí preparei-me para uma noite que pensei ser inevitável. Eu já amava Mateus e nada mais justo que a ele eu me entregasse. Não que eu fosse virgem, mas é que sexo pra mim nunca foi tão importante e nunca fiquei por ficar, nunca transei por transar. Então, julguei que Mateus seria o homem ideal.

Tínhamos marcado as 19, e quando cheguei não o vi, esperei meia hora e nada, uma hora e nada, resolvi ir à boate. Eu não costumava estar em boates gays, mas tinha alguns amigos que sempre iam e adoravam. Já sem expectativa quanto ao Mateus, resolvi dar atenção a um “carinha” que me pareceu interessante e pedia pra falar comigo. Começamos a conversar e logo estávamos aos beijos. Não dava pra conversar dentro da boate, resolvemos sair. Quando saímos e estávamos conversando, uma pessoa se aproxima de nós, era Mateus e não estava sozinho.

Meu coração estava prestes a ser torturado, não falamos nada de inicio, nos olhávamos e era como se a minha decepção se refletisse nele num sentimento de arrependimento e remorso por ter esquecido e estar com outro.

O que mais me abalou é que tudo o que parecia ser verdade no que diz respeito a religiosidade de Mateus era uma grande mentira. Ele poderia até acreditar que Deus o desprezava por ser Gay, mas já estava vivendo a sexualidade dele a muito tempo.

Descobrir tudo isto me fez chorar no meio da rua. Mateus inventou uma desculpa dizendo que nunca mais transaria com homens, teria sido uma promessa e por este motivo não teria ido ao nosso encontro. Mas estava na cara que ele havia transado a pouco tempo. naquele momento me despedi de todos e fui pra casa, frustrado mais uma vez.

domingo, 16 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 2


Capítulo 2

Segunda-feira pela manhã estava eu cantando e dançando, pois finalmente havia encontrado o tal príncipe encantado. Nada poderia abalar minha felicidade.

Naquele dia recebi uma visita, Brígida e seus cabelos ruivos. Era minha amiga mais próxima, com quem eu compartilhava de tudo. Fui logo contando tudo o que ocorrera no dia anterior. Ela ficou feliz, afinal nunca tinha me visto mais sonhador e esperançoso. Verdadeiramente eu estava apaixonado, contando os minutos pra falar com Mateus, mas estava com receio de ligar e parecer pegajoso, quem nunca passou por isto? Comigo estas situações são freqüentes, fico sempre receoso, imagino que estou sendo inconveniente, chato.

Brígida me ajudou a limpar a casa, preparar uma comidinha; sou do tipo que faço de tudo pra agradar o amado (bem dona de casa).

A tarde chegou e finalmente encontrei coragem pra ligar. Falamos rapidamente e combinamos de nos ver em minha casa no final da tarde.
A tarde findou, a noite chegou e Mateus não “deu as caras”. Já estava angustiado, tentava ligar, mas o celular estava fora de área; ligava também pra sua casa e diziam que Mateus estava pra igreja. É quando o telefone de Brígida toca:

- alou!?

- Mateus?

- Fred te espera desde a tarde!

- ok, estamos a caminho.

Fomos parar na igreja. Quando nos olhamos o meu coração começou a saltar dentro de mim. Parecia que todos os meus órgãos apertavam-se na tentativa de sentir, tal era a alegria que me tomou. Não senti o mesmo dele, Mateus me tratou friamente, me deixou de escanteio.

Já estava ficando tarde, e eu não encontrava nenhuma forma de falar a sós com Mateus. Foi quando finalmente ele me chamou e fomos falar no banheiro da igreja. Imaginava que nos beijaríamos ou que ao menos com um abraço ele me recompensaria por ter ficado um dia inteiro distante dele.

Mas ele me surpreendeu com as seguintes frases:

- o que aconteceu ontem, não acontecerá novamente.

- eu esqueci, assim como Deus esqueceu.

Fiquei mudo.

- Não vais falar nada?

Então respondi:

- Adiantaria?

Ele me olhou bem nos olhos e saiu do banheiro.

Fixei meu olhar no nada e falei com Deus:

- Como podes ter esquecido se te lembrei o dia inteiro, a noite inteira?

É impossível descrever a dor, a decepção, o sentimento de traição que tomou meu coração. Não conseguia disfarçar. Quando sai do banheiro, Brígida logo me perguntou o que houve. Eu não tinha forças pra falar. Fui pra casa e desabafei pra Deus. Fiquei sem entender o porquê ou pra quê Deus permitiu que tal coisa acontecesse.

Fico imaginando quantos garotos e garotas passam por estas situações na igreja. Só quem já passou por isto entende. Eu gostaria de nunca ter vivido o que vivi naquele dia, mas acredito que serviu pra hoje eu ver que existe uma luta sendo travada dentro das igrejas pra diminuir tanto abandono e desrespeito aos homossexuais. Ta na hora de repensar os conceitos e valores. Nós gays estamos na igreja, somos a igreja e queremos ser vistos, tratados como normais, filhos e filhas do Deus de amor. Todo que ama é nascido de Deus, diz a Bíblia em 1° João 4,7.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 1


Capitulo 1

Manhã de domingo, o sol estava a todo vapor, aqui em São Luís do Maranhão onde os raios solares esquentam mais, mais...!? Não mais que os olhares do Mateus. O ensaio de dança da igreja estava no final e eu já estava cansado de desviar os olhares, estava sem entender, achava se tratar de nada além de simpatia.

Naquela manhã irmã Lucia nos convidou a almoçar em sua casa, topamos com uma condição, Mateus só poderia ir depois do ensaio, e assim esperamos. Já famintos, finalmente o ensaio chega ao fim. Subimos a rua conversando e lembrando causos engraçados. Ao chegar preparamos uma comida, coisa rápida, esquentamos apenas uma lasanha e comemos com farofa, uma mistura bem exótica, mas até que ficou bom. Depois insisti em ver o DVD de um musical, idéia rejeitada por todos, preferiam jogar imagem e ação, um jogo de mímicas e adivinhações. Durante o jogo os olhares de Mateus voltaram a tirar minha paz, me despia e de repente me vi totalmente envolvido, podia sentir literalmente meu corpo em chamas e tudo indicava que o dele também estava inflamado, afinal, era visível que estava excitado. Fiquei confuso, afinal, Mateus era muito religioso, aparentemente muito obediente as regras da igreja.

Imaginar que poderíamos ter um romance, uma história era muito louco e muito sedutor, portanto não pude fugir dos olhares e toques, me deixei envolver por aquele momento, o clima, a possibilidade de beijá-lo, de sentir sua pele próxima a minha, sentir seu cheiro me embriagava de excitação.

Tudo isto acontecendo dentro de mim e o jogo continuava, eu Mateus e irmã Lúcia, que nem imaginava o que estava acontecendo.

A tarde chegou ao fim e resolvemos comer pipoca com refrigerante, combinamos que eu faria a pipoca e irmã Lúcia, acompanhada por Mateus, compraria o refrigerante, mas Mateus recusou o convite de irmã Lúcia preferindo ficar comigo e preparar a pipoca.

No intervalo que irmã Lúcia foi ao supermercado eu e Mateus ficamos sozinhos. Inicialmente perguntei a ele o que significava todos os olhares e toques, alem da excitação, ele respondeu que não sabia, daí perguntei bem junto ao seu ouvido quem sabia sem obter resposta meus lábios estacionaram em sua boca e o beijei, eu não poderia descrever o que senti. Logo já estávamos nos abraçando, ousei pegar em seu corpo de maneira a satisfazer o meu desejo de tê-lo, e senti todo seu corpo estremecer, meu nível de excitação estava no máximo, fomos parar no quarto, na cama (calma... sem tirar a roupa), tivemos que parar, pois irmã Lúcia estava prestes a chegar. Começamos a conversar e comentar que o que estávamos fazendo era pecado, não que Deus nos condenaria por nos amar e sim que poderíamos estar indo contra a nossa liderança eclesiástica. Mateus nunca se aceitou e talvez nunca se aceite, mas eu já estava apaixonado e se tem alguém que não tem porque ficar no armário sou eu, afinal, não creio que Deus me abomine por ser gay, creio muito mais que a homofobia deixa o coração de Deus magoado.

Irmã Lúcia chegou e aparentemente não desconfiou de nada, comemos e logo saímos, tínhamos que ir cultuar e já estávamos atrasados. Fui deixá-lo em casa e no caminho nos beijamos e não posso deixar de dizer que o último beijo foi um dos melhores, pois pela primeira vez partiu dele, ainda posso sentir o prazer que tive ao receber tal beijo.

No culto, à noite, sentamos um do lado do outro, Mateus pegou minha bíblia e escreveu na ultima página a seguinte frase, “Jamais impedirei que me ames”, eu estava muito feliz, pois sempre imaginei que um dia eu teria um relacionamento saudável com alguém que crer em Deus. Diga-se de passagem, que sou cristão protestante e que sou inclusivo, ou seja, acredito que os textos bíblicos referentes a homossexualidades foram mal interpretados e que em nada são condenatórios a homossexualidade moderna, como a conhecemos, não mais como pessoas que simplesmente transam com outras do mesmo sexo e sim como relacionamentos homo afetivos onde o sexo não é tudo, onde o amor que vem de Deus e é Deus nos envolve e nos leva a ter um relacionamento de lealdade e fidelidade alicerçados no amor.

Infelizmente na igreja convencional eu não poderia explicitar meu carinho por se tratar de homo afetividade, tive que me despedir de maneira fria e distante. Aquela noite foi de muita oração, pedindo a Deus que abençoasse aquele amor que nascera em meu coração.