quinta-feira, 10 de junho de 2010

Jamais impedirei que me ames. Cap 8


Aquela noite realmente foi inesquecível. A lembrança de Clóvis no ar seguro apenas pela corda, teimava em grudar nos meus pensamentos. Depois de muito tentar, consegui dormir.


No dia seguinte, acordei cedo com um telefonema, era Mateus aflito com o que acontecera. espantado, afinal Clóvis freqüentava a igreja e sendo assim ele sabia que iria direto pra o inferno. Fui bem rude com Mateus, afinal o que menos importava naquele momento era estas conclusões religiosas e sim o estado da sua família. Sempre vi nestas pessoas que se importam tanto com o destino póstumo dos outros muita hipocrisia.


Depois de falar com Mateus. Resolvi ir ao velório. Coloquei uma roupa preta em sinal da minha tristeza. Encontrei Brígida que logo cedo já estava a caminho da casa da família de Clóvis. Brígida me perguntou como pode Clóvis com o braço quebrado amarrar uma corda no teto. Realmente era intrigante, eu não detinha a resposta. Fomos cheios de indagações ao velório.


Logo quando cheguei a mãe de Clóvis, dona clara, me abraçou e contou que antes de aparecer com o braço quebrado Clóvis já havia amarrado a corda, alegando querer armar uma rede. Desde criança Clóvis adorava dormir em rede. Depois de falar estas coisas ela me perguntou se ele me disse como quebrou o braço. Eu fiquei frio. Ela continuou, dizendo que ele explicou que caira da goiabeira da minha casa. Eu apenas confirmei.


O pai de Clóvis, seu Mauro, estava muito triste. O Pastor da família chegou e deu uma palavra de apoio a familiares e amigos. Ninguém tocava no assunto temido da homossexualidade parecia que queriam pôr uma pedra nesta história. Mas eu acreditava que colocar uma pedra nesta história era negar o próprio Clóvis e tudo que ele viveu. Quando pensei isto tomei uma decisão. Pedi um espaço depois do sermão do Pastor.


Neste momento pedi a dona Clara para eu ler a carta de despedida de Clóvis. Ela prontamente atendeu meu pedido. Quando já estava com a carta em minhas mãos o pastor terminou a palavra e eu ergui minha voz.


- Sou um amigo muito próximo do Clóvis, eu o amava muito e estou muito triste por sua morte. Mas tem uma coisa que não posso admitir. Que ele tenha morrido em vão. Sei o motivo que o levou a dar cabo de sua vida. E quero que todos tenham consciência disto. Por isto vou ler a carta de despedida que ele deixou a sua mãe,mas que de alguma forma pode nos ajudar a cuidarmos mais de nossos filhos e filhas, de nossos amigos e vizinhos.

Neste momento li em voz alta a carta de Clóvis.


Todos ficaram espantados, dona clara perecia ter entendido minha ousadia como uma ultima homenagem ao meu querido amigo. Mas seu Mauro, aparentemente irado, retirou-se do ambiente. Os parentes e amigos ficaram muito pensativos e eu tive a plena certeza que ali a morte do meu amigo não foi em vão.

No final da tarde Clóvis foi cremado, este sempre foi um desejo dele. Quando eu estava a caminho de casa vi Edgar, minha vontade era de pular em seu pescoço, mas tive que me conter.


Queria poder voltar ao tempo e refazer toda esta história, mas no mundo real as coisas não acontecem assim. Por conta da intolerância eu muitas vezes pensei em tirar minha vida, mas minha fé em Deus e minha certeza que Ele me ama sempre me mantiveram vivo. Pensei naquele final de dia que poderia trabalhar, militar pela causa. Estava disposto a ajudar, aprender sobre minha sexualidade e tentar mudar um pouco o mundo que nos rodeia.

4 comentários:

  1. Bom, é triste essa situação, a intolerância de algumas pessoas podem levar à perda de alguem querido às vezes o próprio filho, tenho penas dessas pessoas.Espero que o Clóvis esteja num lugar bem melhor do que o que ele estava. E que venha o Capítulo 9.

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  2. vixi peguei o bonde andando ... mas parece ser uma boa história ....

    http://arathane.blogspot.com/

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  3. Jah passei por essa situação de qrer me matar!
    é estranho!
    é uma boa história!!
    espero pelo cap 9!

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  4. Seu blog é muito interessante, bom compartilhar experiências sobre nossas vidas, mesmo que ficcionais. Abraços, boa sorte!

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