terça-feira, 15 de junho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Jamais impedirei que me ames. Cap 8


Aquela noite realmente foi inesquecível. A lembrança de Clóvis no ar seguro apenas pela corda, teimava em grudar nos meus pensamentos. Depois de muito tentar, consegui dormir.


No dia seguinte, acordei cedo com um telefonema, era Mateus aflito com o que acontecera. espantado, afinal Clóvis freqüentava a igreja e sendo assim ele sabia que iria direto pra o inferno. Fui bem rude com Mateus, afinal o que menos importava naquele momento era estas conclusões religiosas e sim o estado da sua família. Sempre vi nestas pessoas que se importam tanto com o destino póstumo dos outros muita hipocrisia.


Depois de falar com Mateus. Resolvi ir ao velório. Coloquei uma roupa preta em sinal da minha tristeza. Encontrei Brígida que logo cedo já estava a caminho da casa da família de Clóvis. Brígida me perguntou como pode Clóvis com o braço quebrado amarrar uma corda no teto. Realmente era intrigante, eu não detinha a resposta. Fomos cheios de indagações ao velório.


Logo quando cheguei a mãe de Clóvis, dona clara, me abraçou e contou que antes de aparecer com o braço quebrado Clóvis já havia amarrado a corda, alegando querer armar uma rede. Desde criança Clóvis adorava dormir em rede. Depois de falar estas coisas ela me perguntou se ele me disse como quebrou o braço. Eu fiquei frio. Ela continuou, dizendo que ele explicou que caira da goiabeira da minha casa. Eu apenas confirmei.


O pai de Clóvis, seu Mauro, estava muito triste. O Pastor da família chegou e deu uma palavra de apoio a familiares e amigos. Ninguém tocava no assunto temido da homossexualidade parecia que queriam pôr uma pedra nesta história. Mas eu acreditava que colocar uma pedra nesta história era negar o próprio Clóvis e tudo que ele viveu. Quando pensei isto tomei uma decisão. Pedi um espaço depois do sermão do Pastor.


Neste momento pedi a dona Clara para eu ler a carta de despedida de Clóvis. Ela prontamente atendeu meu pedido. Quando já estava com a carta em minhas mãos o pastor terminou a palavra e eu ergui minha voz.


- Sou um amigo muito próximo do Clóvis, eu o amava muito e estou muito triste por sua morte. Mas tem uma coisa que não posso admitir. Que ele tenha morrido em vão. Sei o motivo que o levou a dar cabo de sua vida. E quero que todos tenham consciência disto. Por isto vou ler a carta de despedida que ele deixou a sua mãe,mas que de alguma forma pode nos ajudar a cuidarmos mais de nossos filhos e filhas, de nossos amigos e vizinhos.

Neste momento li em voz alta a carta de Clóvis.


Todos ficaram espantados, dona clara perecia ter entendido minha ousadia como uma ultima homenagem ao meu querido amigo. Mas seu Mauro, aparentemente irado, retirou-se do ambiente. Os parentes e amigos ficaram muito pensativos e eu tive a plena certeza que ali a morte do meu amigo não foi em vão.

No final da tarde Clóvis foi cremado, este sempre foi um desejo dele. Quando eu estava a caminho de casa vi Edgar, minha vontade era de pular em seu pescoço, mas tive que me conter.


Queria poder voltar ao tempo e refazer toda esta história, mas no mundo real as coisas não acontecem assim. Por conta da intolerância eu muitas vezes pensei em tirar minha vida, mas minha fé em Deus e minha certeza que Ele me ama sempre me mantiveram vivo. Pensei naquele final de dia que poderia trabalhar, militar pela causa. Estava disposto a ajudar, aprender sobre minha sexualidade e tentar mudar um pouco o mundo que nos rodeia.

domingo, 6 de junho de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 7


Capítulo 7

O que previ realmente aconteceu. Em vez de me ligar, Clóvis foi até minha casa. Nem acreditei quando vi Clóvis, tava com o braço quebrado e muito triste, seus olhos estavam inchados e as lágrimas não paravam de rolar. Fiquei sem entender.

O que houve? Perguntei.

- Contei para o Edgar que falei a você do nosso encontro e ele ficou irritado disse que não era bicha e que mais cedo ou mais tarde eu contaria pra outras pessoas. Eu disse que ele não poderia ser Hétero, afinal tinha ficado comigo. Edgar virou uma fera e começou a me bater e gritar que me mataria se eu contasse pra mais alguém. Mas o pior não foi nada disto. Ele tentou me estuprar. Pegou uma faca na cozinha e disse que eu iria transar com ele querendo ou não, pra eu aprender a respeitar cara de macho. Eu estava espantado e muito nervoso, não havia clima. Quando eu tentei fugir eu acabei caindo na escada, depois ele desceu e começou a me chutar e cuspir em mim. Eu quebrei o braço e como dar pra ver estou todo machucado. O pior de tudo é que meus sentimentos estão dilacerados, meu coração está envergonhado de acreditar que poderia amar o Edgar, mesmo sendo “bofe”.

Depois de ouvir tudo isto, eu abracei meu amigo. Choramos juntos. Clóvis é um menino que sofreu muito na vida por ser Gay. a família dele sempre o tratou de forma diferente de seus irmãos héteros seu Pai sempre foi muito duro, sua mãe tentava acalmar as coisas NE casa dele sempre que a temática homossexualidade entrava nas conversas ou discussões em família. Na verdade nem sei o que seria do Clóvis sem sua mãe. Carinho materno foi o que sempre manteve Clóvis vivo. e quando ele finalmente achou encontrar um homem que o daria carinho acontece tudo isto. e eu não poderia naquele momento dar lição de moral.

A vida dos Gays costuma ser difícil, afinal nós somos, geralmente, criados de forma diferente. Não nos tornamos gays pela forma como somos criados e sim somos criados de forma diferente por sermos gays. E com Clóvis não era diferente. Mas o que estava me angustiando era o fato de Clóvis ser muito emotivo e ter alguns preconceitos religiosos em relação a sua sexualidade. achar que Deus nos abomina faz mal e deixa nosso alto-estima lá em baixo.

Naquele momento Clóvis se deitou na minha cama e eu comecei a tocar violão e tocar alguma música feliz pra distraí-lo, cantei uma música da Vanessa da mata, quando um homem tem uma mangueira no quintal, ele adora a letra desta música, morre de rir. Logo estava dormindo.

Fiquei olhando pra ele dormindo e não conseguia ver além de um menino simples e normal. Que sonhou e quebrou a cara, que viveu uma vida difícil e merece tanto um amor, uma vida tranqüila. Como já disse cazuza, a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida.

Depois de uma hora, ele levantou e disse que iria pra casa. Despedimos-nos e ele me deu um abraço muito apertado. Dizendo que eu tinha sido a pessoa mais legal que havia conhecido na vida e que pra sempre ele me levaria em seu coração. Eu agradeci e ele saiu.

Duas horas depois recebi uma ligação, a mãe de Clóvis desesperada. Em meio a choros não conseguiu falar nada, desliguei o fone e fui a sua casa.

Quando cheguei havia carros da polícia e muitas pessoas. Eu consegui entrar e não posso descrever como foi terrível a cena que vi. Clóvis havia amarrado uma corda no teto do seu quarto e suicidou-se. Eu não podia contar as lágrimas. A mãe dele inconformada correu pro meu abraço. Choramos muito. Ela estava com um papel na mão. Era uma carta. Deixada por Clóvis. Aquela noite foi terrível pra todos nós.

Clóvis disse em sua carta:

"Eu não escolhi ser assim. Por tantas vezes perguntei pra Deus, porque eu? Entre tanta gente, justo eu fui nascer gay? Eu não posso mudar isto. Carinho? Nunca tive. a não ser de você mamãe. Por isto a você deixo esta carta, a única pessoa que me amou de verdade. A você dedico meus 19 anos de vida. Desculpa não ter forças pra suportar a sociedade que me apedreja com seus pré-conceitos. Diga ao papai que o amei muito apesar de todas as vezes que apanhei por brincar com as bonecas da Maria Lúcia, ou quando me cobrava namoradas mesmo sabendo da minha orientação sexual. Também digo aos meus irmãos que os amei sempre. Desejo um dia reencontrar a senhora. Mas não quero mais viver, sofrer e não ter amor. Sabe mamãe não é fácil. Não foi fácil. Adeus."

Clóvis Ferreira.

terça-feira, 1 de junho de 2010


Capítulo 6

Quando cheguei em São Luís recebi uma ligação, era Clóvis. Fiquei muito feliz, pois fazia uma semana que não nos falávamos e como tudo na vida, parecia que tudo estava diferente com ele. Em uma semana ele conheceu o “amor da sua vida”. Ligou-me e falou exatamente como aconteceu.

No meio LGBT as coisas costumam acontecer de forma muito rápida, você encontra uma bicha hoje e ela te apresenta um namorado e na semana seguinte você a encontra e ela te apresenta outro. Com Clóvis era diferente, ele nunca havia me apresentado algum namorado e pela primeira vez estava loucamente apaixonado.

Era um visinho, lindo, negro, magro e alto (que inveja, RS). Mas com um defeito era Hétero (só falo que é defeito, pois pela lógica heteros não se apaixonam por homos). Perguntei então como aconteceu à aproximação.

Clóvis começou:

- estávamos num bar aqui perto, estava eu e uma amiga numa mesa de frente pra dele. Ele estava sozinho e eu o convidei pra sentar conosco, ele aceitou e conversamos muito, ele disse que estava triste, pois sua namorada terminou o relacionamento e viajou para Santa Catarina. Minha amiga estava com um encontro marcado e teve que sair, ficamos sozinhos. Eu comentei que eu estava sozinho em casa e ele propôs levarmos uma bebidinha para lá e conversarmos melhor. E assim aconteceu. Quando chegamos em casa, ele me pediu uma bermuda emprestada, pois ele estava suado e queria trocar de roupa, nunca tinha reparado no corpo dele, que lindo, fiquei cheio de tezão. Mas disfarcei. De repente ele deitou em minha cama e ficou ouvindo musica no meu quarto, enquanto isto eu estava preparando uma bebida, fiz uma caipirinha com gelo. Fui pro quarto e deitei na cama junto dele. Ele pediu pra eu fazer cafuné em sua cabeça, eu prontamente fiz e resolvi fazer uma brincadeira, tirei um gelo da caipirinha e coloquei em seu peitoral.

- Arrasou amigo! Interrompi.

E Clóvis continuou:

- perguntei o que ele tava achando, ele respondeu que era excitante. você pode imaginar o quanto a sua resposta me excitou. Daí conduzi com a boca o gelo pelo corpo dele, que a essas alturas já estava despido. Conduzi o gelinho até seus lábios e aconteceu o que eu menos esperava, um lindo e molhado, gostoso, não existem adjetivos suficientes em nossa língua pra descrever aquele beijo. Depois do beijo foi só alegria, transamos a noite inteira. E no dia seguinte tomamos café juntos e ele foi pra casa, demos um beijo de despedida e ele me orientou a não me acostumar. Mas já estou apaixonado. E agora?

- Agora toma cuidado, pois bofe é comida de cachorro. Tudo bem que você deu, mas daí a se apaixonar? Agente se apaixona por homossexuais como agente e não por estes bissexuais que acham que são Héteros e nos machucam no final.

- é verdade amigo, mas agente não manda no coração. Hoje à tarde marquei com ele de nos encontrarmos amanhã aqui em casa. Estarei sozinho.

- ok, me deixa a par de tudo hein?

- ok até mais!

Desliguei o telefone e fiquei pensando preocupado com Clóvis, afinal como já disse antes, bofe é comida de cachorro.