quarta-feira, 26 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 5


Capítulo 5

Em meio a muita dor e sentimento de frustração fui deixando de crer que um dia estaria com Mateus e foi neste tempo que fiz uma viagem.

Fortaleza, Ceará, cidade linda. Conheci alguns amigos preciosos. Não foi bem uma viagem a turismo e sim um treinamento para atuar na prevenção de DST/HIV/AIDS. Envolvi-me com uma ONG e me mandaram para fortaleza aprender sobre ações de prevenção nesta área.

O projeto abrangeria todo o nordeste, desta forma conheci pessoas de vários lugares. A diversidade era gritante, de travestis a garotas de programa, soropositivos a pessoas envolvidas em movimentos sociais. Dentre tanta gente, conheci Glauco, um militante da causa GLBT de Baturité, uma cidade da serra do Ceará.

De cara já gostei, era magro, mediano, pele clara e aparentemente bem inteligente, muito comunicativo e tinha uma bunda que chamava meus olhos e era impossível não acompanhá-la.

Ficamos hospedados no mesmo hotel. Nos primeiros dias trabalhamos varias dinâmicas de integração, desta forma, rapidamente já estávamos próximos. O fato de sermos de cidades diferentes rendia muito assunto. Depois começamos a perceber que tínhamos muitas coisas em comum.

As pessoas começaram a perceber e como não poderia ser diferente em um encontro de maioria gay, todos incentivavam a engatarmos um namoro. Um amor de verão, até porque estávamos solteiros, porque não? Só não contavam com minha timidez, definitivamente era muito tímido. Até deixava transparecer que Glauco chamava minha atenção, mas em alguns momentos decisivos eu resistia e fingia que não estava interessado.

Mas uma bela noite Glauco encostou-me na parede do meu apartamento e ensaiou um beijo. Foi com seus lábios até bem próximo a minha boca. Meu coração quase parou, fiquei frio, minha vontade era de beijá-lo, mas não fiz, o empurrei. Ele não tentou novamente naquela noite.

Na terceira noite, Glauco me convidou a sair do hotel e visitar um amigo. Aceitei e fomos passear pela cidade. Na verdade era uma republica onde pessoas do interior moravam enquanto estudavam na capital. Conversa vai, conversa vem e o tempo passou, ficou muito tarde e era perigoso voltar para o hotel. Resolvemos dormir na república. pela primeira vez dormiria do lado de Glauco. O tempo todo ficávamos nos abraçando e trocando elogios, isto me fez pensar que mais cedo ou mais tarde o beijo, que tanto quis a duas noites, se consumaria.

A hora de dormir chegou. E quem estava dormindo do meu lado? Isso mesmo, Glauco. Mas nada aconteceu, mais uma vez ele esperou minha iniciativa.

Minha viagem chegou ao fim, conheci algumas praias, enquanto muitos estavam em cinemas pornôs. Eu e Glauco ficamos muito amigos, trocamos contatos, nos despedimos e voltei a São Luís.

domingo, 23 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 4


Capítulo 4

Fiz uma música sobre aqueles dias, e passei a ver Mateus como um amigo, pelo menos eu tentava me convencer disto.

Mas as coisas do coração não funcionam assim e tenho que confessar que sofri bastante, minhas orações era pedindo pra esquecer, e consequentemente lembrava, e de repente pedia que Deus o trouxesse pra mim. Passei a me dar mal na faculdade, pensava nele na aula, em casa, ouvindo música.

Resisti por uns dias a procurá-lo. Numa sexta feira liguei e combinamos de sair. Naquele dia eu esperava que a noite fosse muito agradável e acredito que ele também, afinal Mateus sempre confessou que gostava de conversar comigo.

Aos poucos fui percebendo que Mateus era promíscuo, me contou que não conseguia ficar sem sexo. Naquela noite acabamos discutindo e acabei dizendo que ele era gay diante de alguns amigos em comum e também de um amigo de infância dele que não sabia da sua orientação. Mateus ficou muito chateado, me tratou com extrema arrogância.

Conheci outro lado daquele “cara” com quem eu queria ficar o resto da minha vida. Ele parou de falar comigo naquela noite e ficamos tão desconfortáveis um com o outro que logo voltei pra casa, frustrado.
Quando me via na rua era como se eu fosse um estranho e eu me comportei da mesma forma diante dele, mas meu coração nunca se acostumou com tal situação.

Sempre fui muito sonhador. E não poderia ser diferente, sou pisciano, sou romântico, ando nas nuvens. Ficava pensando em como reconquistar Mateus. Um sonho que ficava cada vez mais distante.

Estava sempre o seguindo de longe, me satisfazia só de vê-lo. Eu sabia que poderia até “ficar” com outros garotos, mas ele seria sempre o meu amor, meus melhores beijos estariam guardados pra ele, sonhava acordado com o seu cheiro.

Não entendo a intolerância quanto à homoafetividade, o que sentia por Mateus era tão puro e tão natural. Tenho certeza que vem de Deus o amor e tenho certeza que o que senti era amor. Enquanto religiosos homofóbicos tentam defender seus interesses, atribuindo ódio a Deus, (pois dizem que Deus abomina os homossexuais) pessoas morrem sem Deus, achando que o Senhor os odeia. Acredito no contrário, quem é de Deus tem atitudes que geram vida. A salvação esta disponível a todo que crer. Eu creio.

O tempo passou e me abri pra conhecer outras pessoas, fiz novos amigos e sai pra novos lugares. Conheci novas cidades.

sábado, 22 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 3


Capítulo 3

Jamais imaginei viver uma história tão triste, mas no dia seguinte recebi uma visita, era Mateus. Quando nos olhamos nossos olhos se encheram de lágrimas, algo me corroia por dentro, minha vontade era de correr e abraçá-lo, esperei pra ouvir o que ele tinha a dizer, entramos e nos sentamos, logo estávamos rindo e falando de causos engraçados nem parecia que a menos de vinte e quatro horas eu tinha levado o pior fora da minha história.

Fui convidado por Mateus a sair e beber alguma coisa. Fomos parar num bar perto da sua casa, e lá nossos olhares novamente se encontravam e coravam de desejo. Eu adorava ouvir Mateus falar, nos encontrávamos em nossos gostos mais particulares. Maria Betânia, Maria Rita e outros cantores pareciam que fariam a trilha sonora de algo muito bom que estaria por vir.

Ficamos sem assunto e quando isto acontece ou você beija ou vai pra casa frustrado, no meu caso, fui pra casa frustrado. Mas antes de ir marcamos de nos ver no dia seguinte.

Daí preparei-me para uma noite que pensei ser inevitável. Eu já amava Mateus e nada mais justo que a ele eu me entregasse. Não que eu fosse virgem, mas é que sexo pra mim nunca foi tão importante e nunca fiquei por ficar, nunca transei por transar. Então, julguei que Mateus seria o homem ideal.

Tínhamos marcado as 19, e quando cheguei não o vi, esperei meia hora e nada, uma hora e nada, resolvi ir à boate. Eu não costumava estar em boates gays, mas tinha alguns amigos que sempre iam e adoravam. Já sem expectativa quanto ao Mateus, resolvi dar atenção a um “carinha” que me pareceu interessante e pedia pra falar comigo. Começamos a conversar e logo estávamos aos beijos. Não dava pra conversar dentro da boate, resolvemos sair. Quando saímos e estávamos conversando, uma pessoa se aproxima de nós, era Mateus e não estava sozinho.

Meu coração estava prestes a ser torturado, não falamos nada de inicio, nos olhávamos e era como se a minha decepção se refletisse nele num sentimento de arrependimento e remorso por ter esquecido e estar com outro.

O que mais me abalou é que tudo o que parecia ser verdade no que diz respeito a religiosidade de Mateus era uma grande mentira. Ele poderia até acreditar que Deus o desprezava por ser Gay, mas já estava vivendo a sexualidade dele a muito tempo.

Descobrir tudo isto me fez chorar no meio da rua. Mateus inventou uma desculpa dizendo que nunca mais transaria com homens, teria sido uma promessa e por este motivo não teria ido ao nosso encontro. Mas estava na cara que ele havia transado a pouco tempo. naquele momento me despedi de todos e fui pra casa, frustrado mais uma vez.

domingo, 16 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 2


Capítulo 2

Segunda-feira pela manhã estava eu cantando e dançando, pois finalmente havia encontrado o tal príncipe encantado. Nada poderia abalar minha felicidade.

Naquele dia recebi uma visita, Brígida e seus cabelos ruivos. Era minha amiga mais próxima, com quem eu compartilhava de tudo. Fui logo contando tudo o que ocorrera no dia anterior. Ela ficou feliz, afinal nunca tinha me visto mais sonhador e esperançoso. Verdadeiramente eu estava apaixonado, contando os minutos pra falar com Mateus, mas estava com receio de ligar e parecer pegajoso, quem nunca passou por isto? Comigo estas situações são freqüentes, fico sempre receoso, imagino que estou sendo inconveniente, chato.

Brígida me ajudou a limpar a casa, preparar uma comidinha; sou do tipo que faço de tudo pra agradar o amado (bem dona de casa).

A tarde chegou e finalmente encontrei coragem pra ligar. Falamos rapidamente e combinamos de nos ver em minha casa no final da tarde.
A tarde findou, a noite chegou e Mateus não “deu as caras”. Já estava angustiado, tentava ligar, mas o celular estava fora de área; ligava também pra sua casa e diziam que Mateus estava pra igreja. É quando o telefone de Brígida toca:

- alou!?

- Mateus?

- Fred te espera desde a tarde!

- ok, estamos a caminho.

Fomos parar na igreja. Quando nos olhamos o meu coração começou a saltar dentro de mim. Parecia que todos os meus órgãos apertavam-se na tentativa de sentir, tal era a alegria que me tomou. Não senti o mesmo dele, Mateus me tratou friamente, me deixou de escanteio.

Já estava ficando tarde, e eu não encontrava nenhuma forma de falar a sós com Mateus. Foi quando finalmente ele me chamou e fomos falar no banheiro da igreja. Imaginava que nos beijaríamos ou que ao menos com um abraço ele me recompensaria por ter ficado um dia inteiro distante dele.

Mas ele me surpreendeu com as seguintes frases:

- o que aconteceu ontem, não acontecerá novamente.

- eu esqueci, assim como Deus esqueceu.

Fiquei mudo.

- Não vais falar nada?

Então respondi:

- Adiantaria?

Ele me olhou bem nos olhos e saiu do banheiro.

Fixei meu olhar no nada e falei com Deus:

- Como podes ter esquecido se te lembrei o dia inteiro, a noite inteira?

É impossível descrever a dor, a decepção, o sentimento de traição que tomou meu coração. Não conseguia disfarçar. Quando sai do banheiro, Brígida logo me perguntou o que houve. Eu não tinha forças pra falar. Fui pra casa e desabafei pra Deus. Fiquei sem entender o porquê ou pra quê Deus permitiu que tal coisa acontecesse.

Fico imaginando quantos garotos e garotas passam por estas situações na igreja. Só quem já passou por isto entende. Eu gostaria de nunca ter vivido o que vivi naquele dia, mas acredito que serviu pra hoje eu ver que existe uma luta sendo travada dentro das igrejas pra diminuir tanto abandono e desrespeito aos homossexuais. Ta na hora de repensar os conceitos e valores. Nós gays estamos na igreja, somos a igreja e queremos ser vistos, tratados como normais, filhos e filhas do Deus de amor. Todo que ama é nascido de Deus, diz a Bíblia em 1° João 4,7.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Jamais impedirei que me ames, CAP 1


Capitulo 1

Manhã de domingo, o sol estava a todo vapor, aqui em São Luís do Maranhão onde os raios solares esquentam mais, mais...!? Não mais que os olhares do Mateus. O ensaio de dança da igreja estava no final e eu já estava cansado de desviar os olhares, estava sem entender, achava se tratar de nada além de simpatia.

Naquela manhã irmã Lucia nos convidou a almoçar em sua casa, topamos com uma condição, Mateus só poderia ir depois do ensaio, e assim esperamos. Já famintos, finalmente o ensaio chega ao fim. Subimos a rua conversando e lembrando causos engraçados. Ao chegar preparamos uma comida, coisa rápida, esquentamos apenas uma lasanha e comemos com farofa, uma mistura bem exótica, mas até que ficou bom. Depois insisti em ver o DVD de um musical, idéia rejeitada por todos, preferiam jogar imagem e ação, um jogo de mímicas e adivinhações. Durante o jogo os olhares de Mateus voltaram a tirar minha paz, me despia e de repente me vi totalmente envolvido, podia sentir literalmente meu corpo em chamas e tudo indicava que o dele também estava inflamado, afinal, era visível que estava excitado. Fiquei confuso, afinal, Mateus era muito religioso, aparentemente muito obediente as regras da igreja.

Imaginar que poderíamos ter um romance, uma história era muito louco e muito sedutor, portanto não pude fugir dos olhares e toques, me deixei envolver por aquele momento, o clima, a possibilidade de beijá-lo, de sentir sua pele próxima a minha, sentir seu cheiro me embriagava de excitação.

Tudo isto acontecendo dentro de mim e o jogo continuava, eu Mateus e irmã Lúcia, que nem imaginava o que estava acontecendo.

A tarde chegou ao fim e resolvemos comer pipoca com refrigerante, combinamos que eu faria a pipoca e irmã Lúcia, acompanhada por Mateus, compraria o refrigerante, mas Mateus recusou o convite de irmã Lúcia preferindo ficar comigo e preparar a pipoca.

No intervalo que irmã Lúcia foi ao supermercado eu e Mateus ficamos sozinhos. Inicialmente perguntei a ele o que significava todos os olhares e toques, alem da excitação, ele respondeu que não sabia, daí perguntei bem junto ao seu ouvido quem sabia sem obter resposta meus lábios estacionaram em sua boca e o beijei, eu não poderia descrever o que senti. Logo já estávamos nos abraçando, ousei pegar em seu corpo de maneira a satisfazer o meu desejo de tê-lo, e senti todo seu corpo estremecer, meu nível de excitação estava no máximo, fomos parar no quarto, na cama (calma... sem tirar a roupa), tivemos que parar, pois irmã Lúcia estava prestes a chegar. Começamos a conversar e comentar que o que estávamos fazendo era pecado, não que Deus nos condenaria por nos amar e sim que poderíamos estar indo contra a nossa liderança eclesiástica. Mateus nunca se aceitou e talvez nunca se aceite, mas eu já estava apaixonado e se tem alguém que não tem porque ficar no armário sou eu, afinal, não creio que Deus me abomine por ser gay, creio muito mais que a homofobia deixa o coração de Deus magoado.

Irmã Lúcia chegou e aparentemente não desconfiou de nada, comemos e logo saímos, tínhamos que ir cultuar e já estávamos atrasados. Fui deixá-lo em casa e no caminho nos beijamos e não posso deixar de dizer que o último beijo foi um dos melhores, pois pela primeira vez partiu dele, ainda posso sentir o prazer que tive ao receber tal beijo.

No culto, à noite, sentamos um do lado do outro, Mateus pegou minha bíblia e escreveu na ultima página a seguinte frase, “Jamais impedirei que me ames”, eu estava muito feliz, pois sempre imaginei que um dia eu teria um relacionamento saudável com alguém que crer em Deus. Diga-se de passagem, que sou cristão protestante e que sou inclusivo, ou seja, acredito que os textos bíblicos referentes a homossexualidades foram mal interpretados e que em nada são condenatórios a homossexualidade moderna, como a conhecemos, não mais como pessoas que simplesmente transam com outras do mesmo sexo e sim como relacionamentos homo afetivos onde o sexo não é tudo, onde o amor que vem de Deus e é Deus nos envolve e nos leva a ter um relacionamento de lealdade e fidelidade alicerçados no amor.

Infelizmente na igreja convencional eu não poderia explicitar meu carinho por se tratar de homo afetividade, tive que me despedir de maneira fria e distante. Aquela noite foi de muita oração, pedindo a Deus que abençoasse aquele amor que nascera em meu coração.