Capítulo 10
Passei a noite sem dormir, me deliciava com a lembrança do que acontecera. Nada poderia ser mais intenso, eu estava me apaixonando pelo cara errado. Mas o coração lá respeita estas coisas?
Vale lembrar que há pouco tempo eu estava sofrendo de amores pelo Mateus. Realmente não era o momento de uma nova paixão. Na manhã do dia seguinte Mateus chegou a minha casa, e para minha surpresa Edgar já havia falado que estava sentindo algo por mim. Mateus parecia pedir satisfações, eu fiquei sem entender, afinal dele recebi o maior fora da minha vida.
Perguntei:
- O que está acontecendo? Afinal você me dispensou e agora não posso ficar com outra pessoa?
- Não é isto, é que ele espancou Clóvis, e você queria vingança.
- Realmente, mas tenho descoberto outro Edgar, todo mundo merece ser ouvido, não?
- Claro. A verdade é que estou morrendo de ciúmes.
Parei, gelei e calei por um tempo, é como se uma tsunami de sensações e sentimentos tomassem conta de mim, como se uma ferida aparentemente sarada fosse aberta violentamente. Não pensei duas vezes e pedi para Mateus sair, eu precisava respirar.
A confusão tomou conta dos meus pensamentos, afinal Edgar me conquistara de uma forma irremediável e agora Mateus acabara de declarar seu amor. Eu definitivamente já não amava Mateus da mesma forma, e nem poderia. De um lado Edgar, um cara que eu acabara de conhecer e suas referencias não eram as melhores, do outro Mateus o menino religioso que vive uma vida dupla, pena não existir chapolin colorado.
Depois de muito pensar eu decidi deixar as coisas acontecerem naturalmente. À noite fui à igreja, queria ver Mateus e me surpreendi com os olhares das pessoas. Eles me condenavam com seus olhares, fiquei sem entender. Quando terminou o culto fui falar com Irmã Lúcia que me explicou o porquê dos olhares acusativos. Fiquei enfim sabendo que Mateus disse a toda igreja que fora seduzido por mim e todos acreditavam que eu o influenciara a homossexualidade, fiquei arrasado. Fui pra casa pesado.
Fiquei a refletir a respeito de a homossexualidade ser algo externo ao nosso corpo, como eu poderia influenciar alguém a algo que é inato ao ser humano nesta condição. Realmente a igreja está carregada de muitos preconceitos.
Na Manhã seguinte as nuvens de chuva estavam a me avisar que teríamos um dia bem agradável e foi neste clima que recebi a visita de Edgar, eu não poderia definir o quanto fiquei feliz, só pude demonstrar o beijando, como se estivéssemos a meses distantes. Ele se surpreendeu, mas adorou. Ele fora na minha casa me avisar que havia sido aprovado no último concurso e que agora poderia assumir sua homossexualidade com segurança e também assumir nosso namoro. Fiquei gelado de novo, mas fiquei gelado de feliz. Assumir nosso namoro? Quer dizer que antes ele nunca havia assumido nada por não ter estabilidade financeira e não por preconceitos? Mas porque batera no Clóvis, o que realmente teria acontecido, eu estava vivendo um dilema e como falar sobre isto com Edgar. Deixei estes questionamentos pra depois e tratei de curtir o momento. Edgar se mostrara perfeito, era como se previsse meus pontos de excitação, mãos e corpo me deixavam sem juízo. Terminamos a manhã almoçando juntos e ele voltou a sua casa pra organizar a papelada e assumir seu cargo.